Geração Z: Como estimular a interação de jovens com instituições culturais?
- Vitória Messias
- 26 de jun. de 2023
- 4 min de leitura
Todos nós, em alguma época da vida, já visitamos algum museu ou exposição. Pode ser que uma breve lembrança das excursões de escola esteja tomando o seu cérebro neste exato momento. Mas, precisamos te dizer: esqueça tudo o que você acha que sabe sobre esses passeios. Se a imagem que vem à memória remete a lugares tradicionais, que só sabem falar de assuntos do passado e obras de arte que pouco sabemos o nome e autoria, saiba que os tempos mudaram e os “ares” dos museus são totalmente diferentes agora.
A explicação é clara e objetiva: tudo e todos estão se adaptando à mudança de gerações. A desconstrução da ideia de que locais culturais são antiquados ou ultrapassados já é realidade através de profissionais que entendem as necessidades do seu tempo e das pessoas que completam o convívio diário.
Mylena Fernandes de Carvalho, historiadora e educadora no Museu da Língua Portuguesa - um dos mais importantes centros culturais e educativos da cidade de São Paulo - diz que as instituições culturais estão cada vez mais inseridas no movimento tecnológico como formato de metodologia de ensino e considera esse requisito um dos principais para atrair a geração mais tecnológica que já existiu nos últimos tempos.
Segundo ela, mudar é preciso e ouvir é essencial em momentos como o que vivemos. Durante sua trajetória como educadora em museus, ela pode comprovar que trabalhar com a cultura é um desafio diário. “Desde pequena, reconheço o apreço, o zelo que temos que ter pela nossa história. Ver fatores intensos se transformarem em quadros, esculturas, músicas e arte é algo belo e o meu hobby preferido” comenta Mylena.
Para a educadora, os museus passam por diversas etapas sociais e a mais gritante é a elitização. Desde os primórdios, locais como este eram privilégio apenas da alta sociedade e isso perdurou épocas e impactou gerações como a nossa. “Focamos muito na palavra ‘descolonizar’ dentro dos espaços educativos”, diz a profissional. Ela acrescenta que nunca foi tão importante trabalharmos em prol da recuperação da cultura, esquecendo de vez a “síndrome do vira-lata latino” e finalmente trazer representatividade para a geração Z através da história e da arte.
De fato, conforme consideramos a inclusão de jovens nesse contexto, é comum encontrarmos algumas dificuldades. Para Mylena, a maior delas é adequar-se ao desejo imediatista de entender o mundo. A forma como a juventude escuta, assiste e dialoga atualmente é extremamente limitada e a tendência é que isso cresça gradativamente a cada geração.
Apesar dos milleniuns prezarem pela diversidade e interação como nunca antes, são necessários mais estímulos visuais e táteis para uma boa aprendizagem e nem sempre os museus dispõem de tecnologias como essa.
A geração atual vive em uma condição de pertencimento. Independente da classe social, jovens de todo o mundo buscam encontra-se em suas experiências. Graças à internet e as redes sociais, o acesso à gama de culturas globais, tradições e influências de todo mundo chegam a casa de todos. O foco sempre será algo que se conecte com a sua essência e com o seu cotidiano de forma geral. Mylena explica que apesar de muitos institutos culturais tentarem oferecer experiências sensitivas, a maioria trabalha ainda com muita seriedade, uma característica que com certeza não atrai a geração do despojo.
Para conquistar a confiança desse grupo de pessoas, as instituições devem ser autênticas e transparentes em todas as suas interações. Mas como os museus podem cumprir essa missão?
Simples! “O museu faz isso de maneira natural, trazendo o que se passou, o que sobrou, os empréstimos de cosmovisões. O MLP em especial tem uma linha do tempo do "Português do BR", nela consta cartas, rádios antigos, televisões; são pontos focais que reconhecem e se interessam, pois se sentem parte daquela história por assimilarem os objetos. Acredito que a geração Z tem como foco a evolução, buscam a criticidade, o diálogo, ultrapassam as memórias através das telas; a comunicação vem de maneira natural quando se sentem representados, quando compreendem que já viram, tocaram, escutaram algo ao menos próximo do que está sendo ensinado nas paredes das instituições” explica Mylena com maestria.
Se você, jovem, gostaria de estar mais integrados em ações como esta, só há um caminho: falar! O incentivo vindo de simples visitações é crucial para que essa conexão aconteça. Segundo a educadora Mylena, esse tipo de estímulo começa em casa, percorre a escola, os amigos e a cada dia que passa é mais essencial que falemos sobre isso.
Definitivamente, não quer dizer que você precise trocar as festas pelo museu. Esse tipo de passeio deve ser prazeroso e não uma obrigação! Mas, que tal normalizar os “rolês culturais” como normalizamos as idas ao shopping?
A juventude só tem a ganhar com visitações a museus e exposições: aumenta o senso crítico, o conhecimento sobre si, sobre o país e conecta os aprendizados digitais com a arte e a cultura. “O museu tem a potência de salvar nossa vivência e o que estamos construindo no presente, que logo se tornará futuro e ficará eternizado no passado”, finaliza Mylena.
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